sábado, 26 de janeiro de 2019

Sacrifícios e Oferendas na Bruxaria Tradicional

É possível ser um praticante de Bruxaria Tradicional (BT) sem realizar sacrifícios animais, mas é impossível ser um bruxo tradicional sem realizar sacrifícios animais. A força vital utilizada para dar fôlego ao feitiço ou ritual é muito singular, catalizar não é algo genérico para nós tradicionalistas, o sangue é o catalizador mais potente da existência, pois é energia vital materializada. Existe a catalização vegetal, claro, contudo, dentro do princípio da singularidade (que é um dos aspectos que separa a BT da magia moderna) cada trabalho mágico requer um catalizador diferente, adequado para aquele trabalho, ou seja, específico. Isso pode mudar de trabalho para trabalho e, inclusive, de animal para animal (a ser sacrificado) ou de planta para planta (a ser utilizada). O mesmo princípio é utilizado para a oferta de oferendas.

O Conceito de Princípio

Na BT não existem muitas "receitas de bolo", algumas, claro, marcam as tradições com costumes e roteiros importantes a serem preservados e, normalmente, são mantidos em segredo. Mas o que prevalece na maioria dos casos é o famoso PRINCÍPIO! Ele representa uma ação que precisa ser feita para o feitiço funcionar, mas que não tem uma regra de como deve ser feito, contudo, não pode escapar ao princípio. Por exemplo: na culinária para fazer um bolo é necessário mexer/bater a massa, mas se você o fará numa bacia ou penela você quem sabe, se você fará numa batedeira ou usará uma colher de pau, mas uma vez é uma escolha sua, mas o PRINCÍPIO é bater/mexer a massa do bolo ou o mesmo nunca ficará como o conhecemos após assado.

Este conceito faz dos bruxos tradicionais tão necessitados da intuição quanto qualquer magista moderno, a diferença está na herança ou aprendizado de um princípio de qual este bruxo tradicional nunca poderá escapar. E, por experiência própria, aconselho a nunca fazê-lo, muitas vezes nos iludimos ao acreditarmos que o feitiço terá o mesmo resultado de sempre, mas não tem!

Ritual de Stregoneria ligado às Forças Infernais

Para Quem Oferecer?

Uma oferenda ou sacrifício ofertada a um espírito ancestral sempre será para alimento metafísico desse mesmo espírito, isso é óbvio! Espíritos desencarnados alimentam-se da essência do que é ofertado. Até mesmo uma vela que é acesa para um espírito desencarnado é também para iluminação do mesmo, para que ele tenha orientação para o que você solicita ao mesmo. Isso é totalmente diferente com Domnus (chamados de "deuses" na magia moderna), pois obviamente eles/as não precisam dessas oferendas ou sacrifícios, mas VOCÊ PRECISA! Tudo que é oferecido a um Domno é revertido para você e para sua vida, por isso, muitas vezes, oferendas e sacrifícios são dados em troca de algo, não é e nunca será uma barganha mais o aproveitamento da energia do sacrifício de vegetais e/ou animais ali realizados, não seria injusto simplesmente desperdiçar comida enquanto milhares de pessoas passam fome oferecendo-a a um Domno que é simplesmente o provedor de todo aquele alimento e que, com certeza, não precisa dele?! Mas o ato de oferecer também faz parte desse processo, por mais que, agora, você entenda que tudo é revertido para catalizar seus desejos e pedidos, pois o que importa para o Domno é a beleza da sua atitude, ou seja, sua intenção em fazer algo realmente bonito e de grande representatividade para ele. Um bom exemplo talvez seja uma festa de aniversário preparada para um amigo ou familiar, a festa é para aquela pessoa, mas ela não comerá e beberá tudo que está ali sozinha, por mais que toda aquela comida e bebida estejam ali por causa dela. Os magistas modernos ativistas do veganismo e vegetarianismo serão eternamente incapazes de entender a diferença de sacrificar uma vaca e sacrificar o as cédulas e moedas e comprariam a vaca, mas muitos deles os seus "deuses" veriam com os mesmos olhos o sacrifício de uma coisa ou da outra (citadas). Sangue catalizam os corpos que compõem nosso ser, fortalece nossa saúde, alimenta nossa esfera protetora e os espíritos guardiões que nos livram de espíritos malfazejos e energias ruins. Existe muito ainda desconhecido entre as ações e razões de um sacrifício dentro da bruxaria. O verdadeiro sacrifício está em fazer o sacrifício e não na morte do animal, pois o Domno poderia simplesmente fortalecer todas essas esferas da sua vida sem você mover uma palha, mas nada vem de graça ou fácil, e, nesse caso, o preço não é o que você oferece, mas o esforço que você tem em oferecer.

- Roberto de Souza (Bruxo Lupus)

terça-feira, 14 de agosto de 2018

O que é o "BTBr"?

A Rede BTBr (Bruxaria Tradicional Brasil) foi criada pelo Magíster Roberto de Souza (Bruxo Lupus) com o objetivo de popularizar conhecimentos básicos sobre a Bruxaria Tradicional no Brasil, especialmente sobre a Stregoneria (Italiana), Mageía Athinaíos (Grega), Galdra/Spae/Sedhr (Nórdicas) e Draíocht (Célticas).
Define-se por Bruxaria Tradicional (BT) antigas práticas de culto regionais da Europa desvinculadas das religiões sociais, tradições heterogêneas e singulares de acordo com a região a qual pertencem, não é pagã e não é cristã, mas contém elementos de ambos, aderente ao sincretismo histórico em algumas tradições (em oposição ao sincretismo e universalismo neopagão), caracterizada por aspectos e espiritualidade tribalizada e oculta, ensinada e repassada para novos adeptos de forma empírica/prática, e conservada em grupos familiares e seus agregados ou coventículos/congregas/conciliábulos.
Respostas a perguntas frequentes: 1) Wica Tradicional NÃO é Bruxaria Tradicional; 2) Algumas tradições de BT incluem o Diabo enquanto um arquétipo, uma herança do medievo; 3) Há algumas semelhanças entre a Wicca e algumas tradições de BT em virtude de a Wicca ter se espelhado nessas tradições; 4) A BT tem origem nos povos indo-europeus e no Neolítico, a Wicca foi criada por volta de 1945; 5) As tradições de BT não possuem deuses que são chamados de "Grande Mãe" e "Cornífero"; 6) Embora não muito frequente, existem sacrifícios animais nos rituais da maioria das tradições de BT; 7) Nem todas as tradições de BT incluem um ritual de iniciação; 8) Preto é uma cor raramente utilizada em vestimentas das tradições de BT; 9) As tradições de BT se relacionam e trabalham com maior frequência com espíritos dos mortos, ancestrais e demônios, e raramente com divindades.
A BTBr abre portas também para os interessados/as em se aprofundar nos mistérios da Bruxaria Tradicional Italiana e se disporem aos testes de integração (para tornar-se adepto/a) do Congrega Brasil, interessados/as em integração podem entrar em contato direto com a liderança para verificar tal possibilidade pelo whatsapp 051995776891 (Mr. Roberto/Lupus).

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Deuses, Demônios e Mitos

Talvez não devêssemos chamá-los assim (de “Deuses”), pois alguns deles são muito maiores do que a palavra “deus” é capaz de definir, enquanto outros (muito comuns nas religiões sociais) foram apenas grandes personalidades humanas que foram divinizadas (semelhante ao que ocorre na Igreja Católica com seus santos). Muitos deuses que hoje conhecemos foram inventados pelo imaginário humano que cria seres grandiosos para sentir-se protegido do desconhecido (muito comum nas religiões sociais), nós, bruxos e bruxas tradicionais, trabalhamos justamente com este “desconhecido” tão temido. Para ilustrar eis o mito sobre o Diabo:

O Diabo era muitas coisas, entre elas, era belo
Mas seu poder era assustador, sua manifestação era grandiosa
Poucos tiveram coragem para aproximarem-se dele e compreendê-lo
Mas muitos tiveram medo! Temiam a ele e a todos que aliaram-se a sua força
Então os temerosos criaram algo que chamaram de Deus
E dizia-se que este era mais poderoso que o Diabo e que o venceria
Tal como seu inimigo.

Para algumas tradições de BT o Diabo é uma das maiores forças da natureza e por trás dele existe a verdadeira essência divina, todos nós conseguimos perceber lampejos dessa essência magnânima na beleza incontestável das coisas da natureza (rios, mares, florestas, bosques, animais…) e compreendemos nossos “deuses” exatamente dessa forma: grandiosas e singulares forças da natureza (e do universo)! O Diabo tornou-se um arquétipo da sabedoria oculta da natureza para os cainitas, assim como outros aspectos presentes na Bruxaria Tradicional que partem desses arquétipos cainitas a exemplo também do Anjo Caído, a Marca de Caim, entre outros. Entende-se que toda tradição de BT terá o seu Diabo tal como um arquétipo, ou seja, uma entidade importante e grandiosa dotada de magnânimo poder e sabedoria oculta, considerado o Grande Iniciador, a encarnação da Liberdade (principalmente pessoal e sexual) e uma força natural genuína. Na Tradição Portuguesa o arquétipo do Diabo é, sem dúvidas, Kabaros algumas vezes chamado de Kabaros Lucífero. Temos alguns mitos medievais que fazem alusões a possíveis Anjos Caídos, mas, com certeza, o melhor exemplo de um Anjo Caído é a Arádia que, encarnando um Lasa (espírito etéreo), tem a missão de trazer a Stregoneria (tradição italiana) de volta no ano de 313 em nome de Diana.


É engraçado como o advento do Cristianismo na idade média tornou o Diabo e seus demônios arquétipos (novas formas generalizadas) para as forças desconhecidas da natureza, e Deus (como um todo) um arquétipo de forças protetoras contra o “desconhecido”. Precisamos ser realistas e compreender que, no aspecto religioso, muitas coisas (deuses, seres, mitos e milagres) são pura fantasia humana para inspiração de fé, e apenas isso. Historicamente (e para muitos bruxos tradicionais) o Cristianismo é a maior prova disso, pois é uma das doutrinas mais baseadas no medo e nos erros (pecados) do mundo! Este sempre foi um indício de criatividade humana para se aproveitar da ignorância alheia para ganhar dinheiro ou poder político, eles prometem proteção e livramento das coisas obscuras, ocultas e diabólicas através do temor e da obediência (evidência óbvia), prática comum entre os romanos e egípcios (não pense que os pagãos eram muito diferente dos cristãos). É fato que os hebreus (precursores dos judeus) eram servos dos egípcios e foram muito influenciados por esta cultura e que os cristãos primitivos se consolidaram em Roma (nascimento da Igreja Católica Apostólica Romana) que também os influenciou muito (entre outras culturas como os sumérios).

Partindo desse entendimento conseguimos perceber como o Diabo se torna um arquétipo dentro do entendimento maniqueísta cristão: o modelo de Set - do Submundo (antagônico a Rá - o Sol); o nome “Lúcifer” - um deus sumério da luz; o modelo de Plutão - sincretismo de Hades; e o sincretismo de Dianus Lucifero (o conjuge da deusa Diana). O mesmo ocorre com Cristo ou Javé, pois Rá é a luz do mundo e o Criador (Pai); Baal é o deus sumério que está nos céus; Júpiter é o Pai Celeste; Sol Invictus, Dionísio, Mitra (e outros deuses) nasceram no solstício de verão (por volta de 25/12) e - alguns - nasceram de virgens. Todas estas histórias denotam as influências que o cristianismo sofreu ao longo do tempo e história, e, sim, estes deuses são bem mais antigos que o cristianismo (especialmente os egípcios).

O Cristianismo é extremamente maniqueísta, esta é uma influência egípcia, mas até os egípcios serão menos maniqueístas que os cristãos e reconhecerão que nada no mundo é “totalmente mau” ou “totalmente bom”, e muito menos que exista uma índole absolutamente má ou boa. Nós, bruxos e bruxas tradicionais, sabemos que a neutralidade perpassa tudo, pois assim é a magia, “nem boa, nem má”, ou seja, entre o preto e o branco há muitos tons de cinza. O bem e o mal serão sempre relativos para nós. Tudo tem um lado bom (por mais amargo que seja pode ensinar algo…), tudo tem um lado ruim (por mais doce que seja pode iludir e enfraquecer…), no fim tudo é cinza, é importante reconhecer este cinza em cada coisa, pois o mundo real é cinza e isto quer dizer que o  mundo mágico também o é.

Muitos deuses (pagãos e cristãos) são apenas Espíritos da Terra que procuram ajudar seus descendentes a partir dos mistérios do Outro Mundo e de algumas forças da natureza, este é o motivo de trabalharmos com poucos “deuses”, pois além de existirem deuses que são criações humanas, existem deuses que são apenas personagens de um mito representados na realidade por algum espírito da terra para que estes “adoradores” não fiquem totalmente desgarrados (embora seja inevitável). Os “deuses” com os quais nos relacionamos são muito mais que histórias, milagres, mitos e lendas, eles na verdade estão por trás de tudo isso e são os mistérios desconhecidos por trás de cada força da natureza. O que realmente importa é o que podemos tocar, vivenciar e praticar: o conhecimento ancestral e tradicional que entende e trabalha com essas forças da natureza, e o poder do sangue que nos torna deuses entre os outros. Não somos adoradores dessas forças (“deuses”) somos contempladores que mergulham nelas, as entende, trabalham com elas, sendo amigos/irmãos/parentes delas, e, por fim, casando com elas (iniciação).

- Bruxo Roberto D' Souza
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segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Descensum: A Viagem ao Inferno

Então você viu a terceira temporada de AHS (Coven) e resolveu acreditar nisso?! Não. Esse é um processo ritualístico existente e antigo, porém destinto do que é retratado na série, embora seja uma considerável ilustração ao "roteiro" real. Recomendo a leitura do texto recém postado sobre "Trabalhos com Demônios na Bruxaria Tradicional", pois mais uma vez nos voltamos para a misteriosa Stregoneria (...).


Como explanei no texto sobre trabalhos com demônios a palavra Inferno se origina do termo em latim infernus ou infernum que se refere etimologicamente a um outro mundo que estaria INFERior ao nosso. Ao traduzir a bíblia judaico-cristã de aramaico e hebraico para o latim (idiomas muito distintos) os tradutores acharam que a melhor palavra para rotular seu suposto submundo cristão seria Infernum, mas, como sabemos, a cultura hebreia foi diretamente influenciada pelas religiões politeístas egípcia, suméria e fenícia (e, mais tarde, pela cultura helenística greco-romana), por tanto, o inferno hebreu é um plágio do Duat egípcio. Essa breve explicação é a chave para desvincularmos nossa compreensão de Inferno aqui da visão cristã sobre o mesmo atualmente popularizada.

Na Stregoneria e religião romana o Inferno é apenas o submundo dos antigos italianos e seus povos indígenas, ou seja, trata-se de um reino dos mortos tal como o Hades dos gregos e o Hel para os nórdicos. Na cultura grega, próximo ao Hades está o Tártaros que podemos descrever com a ala densa, tortuosa e perigosa desse mundo mórbido; na cultura nórdica, a baixo do Hel ainda há o Niflhel que é exatamente similar ao Tártaros, ou seja, é onde está o ardente caldeirão de Hel fervendo as almas malditas; no Infernum italiano não é diferente, existe também uma ala pouco recomendada para se estar, mas no geral (80%) é apenas o reino dos mortos.


O daemon mais conhecido e que, por sua vez, acaba - as vezes - dando nome ao próprio Inferno é Orco. Um dos daemones mais poderosos e regente da morte que é retratado em imagens etruscas como um homem barbado as vezes confundido com Plutão pelos mais leigos na popular religião romana. Também descrito (Orco) como "Irmão da Noite" nos textos de Virgílio em referência ao seu poder em trevas. Mas, além do substantivo infernus, este mundo inferior também era chamado de Averno.

Lêmures é o termo dado para espíritos malfazejos na cultura italiana, são espíritos que negam-se a ir para o Inferno, pois sabem que serão destinados à ala tortuosa onde ficariam perdidas em sofrimento até conseguirem energia (ou apoio energético) para ascender para os "andares" da ala mais tranquila e, para isso, precisam trabalhar arduamente e aprender a "jogar" com os demônios.

Descensum é citado e ilustrado em alguns poemas e lendas da Idade Antiga tanto gregos quanto romanos. Na Odisséia de Homero Odisseu é orientado pela bruxa Circe e pelo Vento-Norte (Bóreas) a descer com seu barco ao Hades para buscar o espírito de uma pessoa morta; Na Eneida de Virgílio Enéias vai ao "reino de Plutão" guiado pela sacerdotisa de Febus. Na Stregoneria descer ao Inferno é um passo importante, processual e - obviamente - perigoso, logo, para ser feito é preciso ter sido evidentemente preparado ao longo do tempo a nível energético, intelectual e espiritual.



O aspecto "processual" do Descensum fica claro quando entendemos o Uestibulum Infernales que podemos ilustrar como os andares de um edifício que são organizados de acordo com as questões humanas em torno da morte: Luctus (Remorso), Morbus (Enfermidade), Senectus Tristi (Velhice), Metus (Medo) e Egestas (Pobreza). Virgílio nomeia esses "andares" de Umbrais (tendo escrito seus textos muito antes de o Espiritismo sonhar em existir...), nos primeiros umbrais estão as almas das crianças tiradas - pela morte - precocemente de suas mães, os condenados à morte por crimes terrenos são julgados em tribunais presididos pelos Minos (Juízes); nos umbrais posteriores estão os que se deixaram destruir pelo amor onde, segundo Virgílio, está a árvore sagrada de Vênus; nos umbrais mais à baixo estão os suicidas que vivem sem o almejado "sossego" sonhado no ato; mas é no mais inferior e oculto dos umbrais que está a bifurcação entre os caminhos dos umbrais comuns (antes citados) para dois caminhos: Os Campos Tranquilos -à direita- e o Extremo Umbral -à esquerda- (também citados na cultura helenística como Campos Elísios e Tártaros) sendo totalmente distinta daquela famosa ideia onde o "paraíso" estaria no Céu ou seria Superior.


A bruxa arcaica, semelhante aos heróis de Homero e Virgílio, possui várias razões para descer ao Inferno ligadas à conquistas e revelações que estão ligadas famosa máxima délfica "Conheça a Ti Mesmo" também presente (de forma semelhante, e não igual) na Stregoneria, mas não existe um Inferno Pessoal, essa é apenas uma metáfora para o quão a bruxa conhecerá a suas próprias sombras após sua descida. Há inúmeros mistérios e detalhes sobre esta questão que não revelarei aqui, contudo, todo esse texto abre portas para uma larga compreensão e desconstrução do Inferno na Bruxaria. Escrevi textos mais aprofundados sobre este lado oculto da Stregoneria, Daemones e Inferno no curso MAGIA REAL, para ampliar seus estudos e entender melhor as bases e os procedimentos recomendo o curso. Para adquiri-lo entre em contato pelo whatsapp 051 9577-6891.


- ROBERTO DE SOUZA 

domingo, 1 de outubro de 2017

Trabalhos com Demônios na Bruxaria Tradicional?

Depois de meses sem postar nada inédito no blog retorno com um tema polêmico que atrai muitos curiosos: a relação e o trabalho com espíritos demoníacos na BT (...).


Antes de tudo é importante compreendermos que, para a BT, não existe uma magia rotulada como negra ou branca, para resumir: tudo é cinza. A bruxa é cinza! Pois não é possível construir sem destruir e vice-versa, isso fica bem claro na famosa lei da ação e reação que geralmente é interpretada como "lei do retorno". O mal e o bem são relativos e isso é intrínseco a qualquer ser existente visível ou invisível, as bruxas que se classificam como "boas" ignoram a destruição que está por trás de cada construção mágica feita pela mesma. Não cremos em karmas, lei tríplice ou qualquer similaridade. Existe um retorno? Não como as pessoas pensam! O retorno seria uma reação da ação, é como um diálogo se soubermos usar as palavras certas para dizer o que é necessário não teremos uma reação bruta da parte do outro, esta é a dica, saber fazer. Eu poderia passar esse texto todo falando sobre essa questão, mas sigamos rumo ao tema...

Para abordarmos este assunto precisamos começar do início e quando me refiro a "início" falo de uma visão primitiva sobre a questão, é importante os satanistas de plantão começarem a separar o joio do trigo quando usam a mitologia bíblica judaico-cristã para justificarem a origem dos demônios mais famosos, um básico conhecimento sobre história nos revela a ascensão cristã após a queda do Império Romano e, consequentemente, do fim da Antiguidade para o início da Idade Média, contudo, o trabalho com espíritos demoníacos já existia entre os "pagãos" muito antes de o cristianismo, judaísmo ou magia salomônica sonharem em existir, ou seja, vem de um tempo tão primitivo que as organizações políticas (governos liderados por reis, rainhas e imperadores) mal existiam.

Para começar a palavra "demônio" não pertence ao hebraico ou aramaico, mas tem origem grega (Daimon, significa Espírito. Geralmente era utilizado para se referir a Espíritos Etéreos, ou seja, "fadas") e é incorporada ao latim (Daemones, significa Espíritos Infernais) e, por consequência, na tradução da bíblia para o latim foi uma palavra escolhida para rotular seres da mitologia judaico-cristã. Não preciso ressaltar a gigantesca discrepância entre os idiomas hebraico e aramaico em relação com o latim, pois é enorme! Há dois fatores que, historicamente, interferem nessa questão: 1) os hebreus foram diretamente influenciados pelos egípcios ao serem escravizados pelos mesmos e isso explica toda a construção da imagem de um deus muito similar ao Rá egípcio e a concepção de céu e inferno uma vez que os egípcios tinham a mesma ideia de reino subterrâneo cheio de provações e de um julgamento pós-morte realizado por Osíris (entre tantos outros aspectos...), mas o principal é a existência de espíritos imundos que se alimentavam de fezes, habitavam o Duat (submundo egípcio) e realizavam trabalhos de maldição; 2) Embora os espíritos maus da mitologia judaico-cristã fossem uma cópia dos espíritos imundos egípcios dentro de uma concepção geral (pois outras influências tais como os sumérios e fenícios também influenciarão os hebreus) os tradutores da bíblia utilizaram uma palavra que os antigos italianos usavam para se referir aos "Spiritum Infernales" que não eram exatamente espíritos imundos ou maus, mas foi a palavra que julgaram mais próxima, um grande erro!

Há duas discordâncias da compreensão judaico-cristã em relação com o entendimento das antigas bruxas italianas. A primeira é com relação ao Inferno, no latim esta palavra se refere a um mundo INFERior, ou seja, a baixo do nosso mundo, semelhante ao Hades dos gregos e ao Hel dos nórdicos, tratava-se apenas do reino dos mortos para onde todos (sem exceção) iriam no pós-morte. Logo o Inferno real não é cheio de fogo e sofrimento eterno, não vou dizer que é o melhor lugar para se estar, contudo, digamos que existem vários andares/planos no Inferno (...). A segunda está atrelada aos demônios, são espíritos que trabalham no Inferno e com os mortos e por isso são consequentemente carregados da maldade humana, suas essências não é boa ou má, mas, com certeza, eles não são de muita conversa e doçura, pelo contrário, são desconfiados, objetivos, amargos e de poucos amigos, mas fazem parte do mundo natural tal como qualquer outro espírito. Não deixam de ser espíritos etéreos, mas seu instinto está voltado para o lado mais egoísta da natureza. E, sim, as stregas trabalham com eles para a vulga magia "negra" dentro da bruxaria tradicional italiana.

Ao meu ver, muitos magistas negros trabalham - sem saber - com alguns deles, por mais que os chamem por outros nomes ou os evoquem a partir de uma outra roupagem ritualística, afinal, após séculos sendo chamados de demônios esse "rótulo" adentrou o Outro Mundo e se enraizou para classificar sua espécie.

Os bruxos e bruxas tradicionais que praticam a Stregoneria geralmente não hesitam em solicitar os favores dos demônios, e, sem culpa ou medo, mas apenas cuidado e respeito. Há diversos mitos que tentam explicar, na bruxaria, a origem deles, mas prefiro a teoria de que foram espíritos humanos muito antigos que após morrerem assumiram tais postos por terem passado por experiências muito densas e amargas.

Apresento mais detalhes sobre o trabalho com demônios e informações sobre a Stregoneria no curso "MAGIA REAL" que se trata de um livro com três partes onde abordo da teoria à prática várias formas de magia e bruxaria tradicional e resolvi comercializá-lo, para adquirir entre em contato comigo por meio do contato (whatsapp) 051 9577-6891.




- Roberto de Souza

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Purificação do Lar com Runas em Velas


Depois da limpeza física e de jogar um pouco de água com sal grosso pelos cantos da casa, faça esse simples ritual adaptado de técnicas tradicionais rúnicas.

Use uma ou três velas brancas e as runas Fehu, Kenaz e Sowilo (as três na mesma vela como está na foto ou uma em cada vela) desenhando-as com tinta preta ou vermelha enquanto canta os sons de cada uma:
..


"Ffffffff.. Ferru..."
"Ka ke ki ko...."
"Ssssssss... Souelu...."

Acenda a vela (com fósforo) e vá caminhando com ela pela casa ao cantar os sons rúnicos e desenhar a runa Kenaz no ar e nos quatro cantos de cada cômodo. Chegando na porta de casa sopre a chama da vela para fora de casa apagando a mesma. Reacenda a vela cantando apenas o som de Fehu e deixe queimando até o fim no cômodo principal da casa. Está feito.


OBS: Esta é uma adaptação de um ritual tradicional feito com tochas pequenas, este ritual também foi resumido para se tornar mais fácil de realizar (outros detalhes são mais complexos e misteriosos).


- Roberto de Souza

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Os Elfos (Álfar)


Há uma tendência medieval - que se estendeu ao renascentismo e ao modernismo - de tentar facilitar a compreensão humana sobre a grande diversidade presente nas existências e Mundos sincretizando, misturando e universalizando todos os seres etéreos, divindades e costumes na tentativa de unificá-los e simplificá-los acabando por desrespeitar totalmente sua real origem, significado e singularidade. Muitos autores antropocêntricos colocarão os elfos (álfar na Islândia) como fadas de forma genérica incluindo-os entre o que os modernistas chamam de 'Elementais' (termo que teve grande reverberação no Renascimento entre ocultistas e esotéricos), mas os elfos são extremamente singulares e genuínos aos olhos dos que os conhecem (e isso melhora quando você conhece também conhece as fadas célticas - sióga na Irlanda - e nota a gigantesca diferença!).



Na Tradição Islandesa dois tipos de álfar são considerados: os ljósálfar (elfos da luz) e os dökkálfar (elfos do escuro). Os Ljósálfar pertencem a morada de Alfheimr e são regidos pela deusa Sunna e pelo deus Freyr, estão associados a elevação, a inspiração criativa, as artes, a sensibilidade, intelectualidade e a música (natureza da runa Ansuz); os Dökkálfar pertencem a morada de Dökkalfheimr juntamente com os Dvergur (anões) e são regidos também por Sunna que desce a morada deles no “pôr-do-sol”, estão associados a sexualidade, ao físico, a força, a fertilidade, ao artesanato e trabalhos manuais e também a sensualidade (natureza da runa Uruz). Os álfar (ljós ou dökk) não são sílfides ou seres especificamente aéreos, são muito mais do que apenas seres relacionados a algum elemento padrão.



A imagem estereotipada dos álfar os coloca como andrógenos de aparência feminina, loiros de cabelos longos, orelhas pontudas, e as vezes chapéu pontudo e etc. Só posso dizer que os álfar são muito mais parecidos conosco do que se imagina, claro que são muito diferentes de nós, são singulares, únicos, mas toda essa fantasia que estereotipa suas aparências estão recheadas de uma exagerada dose de confusão e ilusão, não procure nos livros, os álfar verdadeiros não estão nas conclusões do imaginário autoral, quer saber como um elfo realmente é? Vivencie.


- Roberto de Souza