domingo, 1 de outubro de 2017

Trabalhos com Demônios na Bruxaria Tradicional?

Depois de meses sem postar nada inédito no blog retorno com um tema polêmico que atrai muitos curiosos: a relação e o trabalho com espíritos demoníacos na BT (...).


Antes de tudo é importante compreendermos que, para a BT, não existe uma magia rotulada como negra ou branca, para resumir: tudo é cinza. A bruxa é cinza! Pois não é possível construir sem destruir e vice-versa, isso fica bem claro na famosa lei da ação e reação que geralmente é interpretada como "lei do retorno". O mal e o bem são relativos e isso é intrínseco a qualquer ser existente visível ou invisível, as bruxas que se classificam como "boas" ignoram a destruição que está por trás de cada construção mágica feita pela mesma. Não cremos em karmas, lei tríplice ou qualquer similaridade. Existe um retorno? Não como as pessoas pensam! O retorno seria uma reação da ação, é como um diálogo se soubermos usar as palavras certas para dizer o que é necessário não teremos uma reação bruta da parte do outro, esta é a dica, saber fazer. Eu poderia passar esse texto todo falando sobre essa questão, mas sigamos rumo ao tema...

Para abordarmos este assunto precisamos começar do início e quando me refiro a "início" falo de uma visão primitiva sobre a questão, é importante os satanistas de plantão começarem a separar o joio do trigo quando usam a mitologia bíblica judaico-cristã para justificarem a origem dos demônios mais famosos, um básico conhecimento sobre história nos revela a ascensão cristã após a queda do Império Romano e, consequentemente, do fim da Antiguidade para o início da Idade Média, contudo, o trabalho com espíritos demoníacos já existia entre os "pagãos" muito antes de o cristianismo, judaísmo ou magia salomônica sonharem em existir, ou seja, vem de um tempo tão primitivo que as organizações políticas (governos liderados por reis, rainhas e imperadores) mal existiam.

Para começar a palavra "demônio" não pertence ao hebraico ou aramaico, mas tem origem grega (Daimon, significa Espírito. Geralmente era utilizado para se referir a Espíritos Etéreos, ou seja, "fadas") e é incorporada ao latim (Daemones, significa Espíritos Infernais) e, por consequência, na tradução da bíblia para o latim foi uma palavra escolhida para rotular seres da mitologia judaico-cristã. Não preciso ressaltar a gigantesca discrepância entre os idiomas hebraico e aramaico em relação com o latim, pois é enorme! Há dois fatores que, historicamente, interferem nessa questão: 1) os hebreus foram diretamente influenciados pelos egípcios ao serem escravizados pelos mesmos e isso explica toda a construção da imagem de um deus muito similar ao Rá egípcio e a concepção de céu e inferno uma vez que os egípcios tinham a mesma ideia de reino subterrâneo cheio de provações e de um julgamento pós-morte realizado por Osíris (entre tantos outros aspectos...), mas o principal é a existência de espíritos imundos que se alimentavam de fezes, habitavam o Duat (submundo egípcio) e realizavam trabalhos de maldição; 2) Embora os espíritos maus da mitologia judaico-cristã fossem uma cópia dos espíritos imundos egípcios dentro de uma concepção geral (pois outras influências tais como os sumérios e fenícios também influenciarão os hebreus) os tradutores da bíblia utilizaram uma palavra que os antigos italianos usavam para se referir aos "Spiritum Infernales" que não eram exatamente espíritos imundos ou maus, mas foi a palavra que julgaram mais próxima, um grande erro!

Há duas discordâncias da compreensão judaico-cristã em relação com o entendimento das antigas bruxas italianas. A primeira é com relação ao Inferno, no latim esta palavra se refere a um mundo INFERior, ou seja, a baixo do nosso mundo, semelhante ao Hades dos gregos e ao Hel dos nórdicos, tratava-se apenas do reino dos mortos para onde todos (sem exceção) iriam no pós-morte. Logo o Inferno real não é cheio de fogo e sofrimento eterno, não vou dizer que é o melhor lugar para se estar, contudo, digamos que existem vários andares/planos no Inferno (...). A segunda está atrelada aos demônios, são espíritos que trabalham no Inferno e com os mortos e por isso são consequentemente carregados da maldade humana, suas essências não é boa ou má, mas, com certeza, eles não são de muita conversa e doçura, pelo contrário, são desconfiados, objetivos, amargos e de poucos amigos, mas fazem parte do mundo natural tal como qualquer outro espírito. Não deixam de ser espíritos etéreos, mas seu instinto está voltado para o lado mais egoísta da natureza. E, sim, as stregas trabalham com eles para a vulga magia "negra" dentro da bruxaria tradicional italiana.

Ao meu ver, muitos magistas negros trabalham - sem saber - com alguns deles, por mais que os chamem por outros nomes ou os evoquem a partir de uma outra roupagem ritualística, afinal, após séculos sendo chamados de demônios esse "rótulo" adentrou o Outro Mundo e se enraizou para classificar sua espécie.

Os bruxos e bruxas tradicionais que praticam a Stregoneria geralmente não hesitam em solicitar os favores dos demônios, e, sem culpa ou medo, mas apenas cuidado e respeito. Há diversos mitos que tentam explicar, na bruxaria, a origem deles, mas prefiro a teoria de que foram espíritos humanos muito antigos que após morrerem assumiram tais postos por terem passado por experiências muito densas e amargas.

Apresento mais detalhes sobre o trabalho com demônios e informações sobre a Stregoneria no curso "MAGIA REAL" que se trata de um livro com três partes onde abordo da teoria à prática várias formas de magia e bruxaria tradicional e resolvi comercializá-lo, para adquirir entre em contato comigo por meio do contato (whatsapp) 051 9577-6891.




- Roberto de Souza

8 comentários:

  1. Sempre tive mais interesse pela bruxaria tradicional. Com todo o respeito a wicca,tem certas coisas que não me agradam. Sempre tive vontade de trabalhar com os demônios para adquirir conhecimento. Mas não sabia que a bruxaria tradicional tmb trabalhava. Muito esclarecedor seu texto.

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  2. Só pra constar,demônios nunca tiveram corpo material, ou vida aqui na terra. Espíritos malignos e outras coisas, aí sim podem ter tido uma vida aqui.

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    1. Essa é uma compreensão geralmente imposta pela cultura judaico-cristã, André. Na perspectiva bruxa, ou seja, do politeísmo arcaico há algumas compreensões normalmente similares a que apresentei.

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  3. Difamação contra a Stregoneria agora? Que eu saiba são os de blogs de pessoas do sul que dizem ser da Vera Cruz e que dão entrevistas uns pros outros e pro Morte Súbita e pra Rádio Vamp que dizem ser da Via Tortuosa e que dizem usar material do Cultus Sabbati que falam que trabalham com demônios. Tb vi alguns da Via da Mão Esquerda falando nisso. Em Stregoneria ainda estou pra ver...

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    1. Alguns tais "bruxos" que se dizem do Left Hand Path que falam nisso.

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    2. Difamação somente se você vê o trabalho com demônios como algo negativo como pregado pela cultura judaico-cristã! Demônios são muito mais antigos que tudo isso e estão à cima (assim como diversas entidades das crenças politeístas) do conceito (absolutista) maniqueísta cristão.

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  4. Texto ótimo, mas só um adendo. A lei de Khamma ou Karma é justamente o que foi falado: Ação e reação. O Khamma é muito deturpado pelas crenças "new age" e espíritas. Khamma implica ação. E a reação pode ser benéfica, prejudicial ou neutra. Então as reações têm esses três lados dependendo de qual ação foi dada inicialmente.

    Os egípcios não escravizaram os hebreus. Isso é história da carochinha espalhada pelos hebreus kkkkkk não existe nenhum registro egípcio de escravização de um povo inteiro, existia de pessoas, geralmente vencidos em guerra. O povo hebreu era livre, no máximo alguns eram servos (o que ébeeeeeeem diferente de escravo)

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